Um rottweiler chegou até mim com 40 dias.
Uma bolinha de pelo que dormia o tempo todo, um filhotinho mais doce que já tinha visto.
Foi crescendo e junto com ele a sua curiosidade por tudo que o cercava. Roeu móveis, fios da máquina de lavar, botões da máquina de secar e preencheu meu quintal com uma vida imensa.
Na hora de dormir, ele permanecia embaixo da minha janela a noite toda, muito embora tivesse o espaço dele bem resguardado do sereno e da chuva. Latia muito pouco, somente para marcar presença quando sentia ameaça iminente. Mas ao comando de minha voz ele percebia que tudo estava calmo e se aquietava.
Brincava com André feito criança. Não podia vê-lo que achava que era um brinquedinho seu. A medalha de judô que André ganhou, devemos aos treinos do personal trainer KIKO!!
Belo cão com seu pelo negro brilhante e bem cuidado. Adorava tomar banho. Ficava quietinho. Era carinhoso, dócil e meigo. Ninguém podia me abraçar sem que ele manifestasse seu ciúme afastando as pessoas de mim. Não rosnava, não mordia, apenas enfiava sua enorme cabeça entre mim e a pessoa que estava me abraçando e a afastava com toda delicadeza. Acho que ele aprendeu isso com o André.
Podia tirar o prato da ração dele sem o menor medo, mas o osso dele... ahhhhh... Desse ele cuidava com toda atenção para que não ficasse sem. Como não tem terra no quintal, ele escondia o osso nos cantinhos ou atrás de algo que somente ele conseguiria achar (assim pensava ele).
Era só eu chegar ao quintal que lá vinha ele com os brinquedinhos dele. Entregava-me todo babado para que eu jogasse longe para buscar. E de novo, de novo, de novo. E não me deixava entrar em casa me cercando e me empurrando contra o muro. O bicho era bem mais forte que eu e para enganá-lo eu jogava o brinquedo para buscar e entrava correndo em casa. Só que o meu bichão era muito inteligente. Aprendeu logo a perceber as minhas artimanhas e não arredava pé de perto de mim, pois carente como era, queria que eu ficasse o dia inteiro só brincando com ele.
Era só eu chegar à cozinha para preparar o almoço que lá vinha ele pedir qualquer coisa. Adorava frutas e verduras. Era o verdadeiro cão chupando manga. Batata, repolho, cenoura, manga, maçã, pêssego, ameixa, cereja... Só não comia banana, chique o meu cão, viu?!
Aprendeu a sentar com o estalar dos dedos, a não entrar em casa e ele me ensinou a amá-lo de tal forma que a primeira coisa que eu fazia ao abrir a porta da cozinha era procurar por ele.
Daí o meu bichão começou a mancar. A me ver com o olhar distante. Não estava mais tão ágil como era. Sentia dores nas patas e pernas. Tremi. "Alguma coisa de errado meu bichão tem".
Fui atrás de respostas e... Cinomose. Infelizmente optei pelo sacrifício, pois não queria ver aquele que me deu tanta alegria sofrer e eu sem condições financeiras, físicas e psicológicas para tratá-lo.
Chorei, feito criança que perde seu mais precioso brinquedo. Durante muito tempo ainda o procurava no quintal e permanecia lá durante algum tempo só me recordando das brincadeiras.
Em dezembro de 2012 fez um ano que KIKO se foi, mas é uma lembrança muito boa em minha memória, na certeza de que cão fiel e dócil igual a ele jamais encontrarei.
fotos: arquivo pessoal