Depois que me casei pensei que me tornaria mais atenta, mas que nada. Cheguei a jurar que depois que tivesse filho as coisas seriam diferentes. Tadinho do Felipe, foi minha cobaia.
Como rotina de qualquer família, eu tinha a minha. Todos os dias depois do café da manhã levava o Felipe para escola e ia trabalhar. Trabalhava perto da escola e de casa, portanto, na hora do almoço, eu pegava o filhote e almoçávamos juntos em casa e daí eu voltava para o trabalho. Certa vez, Felipe adoentou-se e eu não levei o menino. Na hora do almoço fui buscá-lo e nada dele aparecer no portão, até que vi a professora gesticulando lá de dentro para mim querendo dizer que ele não tinha ido e eu pensando que ela estava querendo me dizer que alguém o havia buscado, estava quase surtando indo reclamar na secretaria quando me lembrei de que ele tinha faltado.
O pior foi numa festinha de carnaval. Felipe, com seus 5 anos, doido para se fantasiar de qualquer coisa para brincar na escola. Nunca comprei fantasias. Elaborávamos uma, eu o maquiava de acordo com a fantasia imaginada e lá ia ele todo feliz.
Um mês antes, Felipe me avisou da tal festinha e já estávamos pensando em como ele iria naquele ano. Eu tenho um sério defeito. Sempre me lembro das datas uma semana antes e uma semana depois. Aniversários dos amigos não são diferentes, nunca lembro no dia, a não ser que haja um aviso piscante na minha frente muito colorido e agitado para me lembrar. O tempo passou e no dia fatídico eu o levei para escola sempre muito sonada. Quando fui buscá-lo, estacionei o carro longe, pois não havia vaga perto e pus-me a andar em direção à escola. No caminho passou por mim a Branca de Neve, andei mais um pouquinho e vi o Homem Aranha de mãos dadas com a Bela Adormecida. Não demorou muito e passou o Chaves. “Ai caramba!! Esqueci!!”
Cheguei finalmente ao portão e fiquei aguardando até que lá no fundo eu vi um garotinho de cabeça baixa furioso. Seus olhinhos verdes estavam mais verdes ainda e as bochechas mais cheias. Super emburrado, ele nem me cumprimentou. Para puxar assunto eu perguntei como tinha sido a festinha. Ele resmungou qualquer coisa ininteligível e num tom reprovador virou para mim me chamando atenção e disse: “Mãe!! Você se esqueceu da minha fantasia!!”
Eu tinha que consertar aquilo. Na mesma medida que sou desligada, possuo raciocínio rápido. Virei para ele e disse: “Como assim esqueci?! Não me esqueci não!! Você veio fantasiado de estudante!!”
Não é que deu certo? Um belo sorriso estampou-se naquele rostinho emburrado e viemos felizes da vida para casa e ele me contando de todas as brincadeiras que participou naquele dia festivo.
Contornei!!
foto: desenho de Inês de Barros
Palhaço
outubro/2013
outubro/2013
lápis de cor em sulfite
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