Hoje comemoramos o Natal Ortodoxo.
Era 1582, ano em que o Papa Gregório XIII, decidindo acertar
o passo dos dias com o sol, realizou uma reforma no calendário, deixando de fora
quatorze dias do calendário Juliano adotado pelo Imperador Romano Julio Cesar.
O calendário gregoriano passou a ser adotado por todo o mundo cristão, exceto pela
Igreja Ortodoxa que o rejeitou e manteve seu calendário Juliano apenas para
as comemorações religiosas.
Mas por que não aceitaram? A história nos conta que até o século
XI, católicos romanos e ortodoxos têm uma história comum com a fé alicerçada na
Igreja de Jesus Cristo. No século IV se deu o Primeiro Conselho de Niceia, reunião
de bispos cristãos, a fim de obter a primeira tentativa de consenso através de
uma assembleia representando toda a cristandade, onde foram discutidas questões
doutrinárias. Como resultado desta assembleia, ficou estabelecida a Pentarquia,
forma pela qual a igreja cristã passou a ser organizada por cinco patriarcados:
Jerusalém, Antiorquia, Alexandria, Constantinopla e Roma (o antigo
Patriarcado), sendo o Bispo de Roma considerado o primeiro dentre os
patriarcas. Porém, com a transferência da residência imperial romana,
juntamente com o senado, para Constantinopla alguns anos depois, o Bispo de
Roma perdeu a influência nas igrejas orientais, sendo beneficiado o Bispo de
Constantinopla.
Dentre os diversos fatores que fizeram com que Roma e os
demais patriarcados se distanciassem, fazendo com que o Oriente e Ocidente
deixassem de estar sob o mesmo governo, podemos mencionar a divisão do Império
Romano, com sua consequente queda e a tentativa fracassada do Imperador
Justiniano I em reunificar o império. Aliada à ascensão do Islã que dificultou
as trocas econômicas por via marítima entre Império Bizantino (língua grega) e
o Ocidente (língua latina), a unidade cultural entre os dois mundos deixou, aos
poucos, de existir. Já no século VIII, Roma, sob a proteção do Império
Carolíngio, as duas Igrejas, de Roma e Constantinopla, se distanciaram estabelecendo
impérios distintos, fortes e autossuficientes, cada um deles com sua própria
tradição e cultura. Por conta disso, as divergências doutrinárias entre
Ocidente e Oriente foram inevitáveis, principalmente pela inclusão pela Igreja
Latina da cláusula de filioque no Credo de Niceia (não encontrada nos textos
gregos) que era considerada herética pelos ortodoxos.
Além da adoção gradativa de rituais diferentes, Roma
pretendeu exercer uma autoridade incontestável sobre todo o mundo cristão,
enquanto que Constantinopla apenas delegava à Roma uma posição de honra. Com tanta
disputa aconteceu, no ano de 1504, a ruptura entre a Igreja Católica do Ocidente
e a Igreja Ortodoxa do Leste, o chamado Cisma do Oriente.
Estabelece-se, então a Igreja Ortodoxa do Leste, porém com
formato diferente dos antigos Patriarcados, composta por outras dez igrejas
autocéfalas (com administração própria) que não aceitam a autoridade papal. E são
elas: Albânia, Bulgária, Chipre, Geórgia, Polônia, Rússia, Romênia, Sérvia, Sinai e Tchecoslováquia.
Mas então, uma vertente do cristianismo comemora o
nascimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo atrasado? Não!! De forma
alguma. Este "atraso" se dá única e exclusivamente por conta dos calendários
adotados pelas Igrejas do Ocidente e Oriente. Na verdade comemora-se no mesmo
dia, sendo que no calendário Juliano conta com mais 14 dias.
Mas de tudo isso o que realmente importa é parabenizar, cada
um à sua maneira, àquele que veio ao mundo, mesmo sendo Deus, em forma humana e
que revolucionou o pensamento da época pregando seu amor.
Mais uma vez, respeitando meus amigos ortodoxos, UM FELIZ
NATAL e que Cristo esteja abençoando seus lares e estabelecendo morada em seus
corações.
foto: Advento
Natividade
ícone da escola de Pskov, século XVI
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