Sempre fui muito moleca, alegre e brincalhona. Quando Felipe
nasceu, voltei a ser criança, mas agora com mais responsabilidade. "Brinquei de
boneca", de novo, nos cuidados do meu filho amado, com uma atenção de uma leoa.
Cuidei daquele bebê com toda dedicação do mundo e ele foi crescendo e com este
crescimento as "brincadeiras" ficaram diferentes. Chutar bola, lançar
carrinho, brincar de lutinha e montinho em cima de minha cama eram atividades corriqueiras. Era uma
gargalhada só.
Nosso apartamento era pequeno, mas abrigava bem nossa
restrita família de três membros (pai, mãe e filho). Em dias mais frios e de
chuva, ficávamos dentro do apartamento brincando. Num dia frio, Felipe aprontou uma e saiu
correndo e eu atrás dele. Ele, mais esperto e mais ágil que eu
conseguia se esquivar, até que saiu em disparada pelo corredor em direção à
sala e, descalço, topou o dedinho do pé direito na perna de uma cadeira. Ele deu
um grito de dor. Quando cheguei perto dele e pedi para ver o pé, levei um susto.
Seu dedinho fazia um ângulo de 90° com seu pé. Fechei os olhos, respirei fundo,
contei sei lá até quanto e quando minha respiração voltou ao normal, virei para
ele e disse calmamente: "Vá tomar um banho rápido que vou levá-lo para o
hospital". Assim ele fez.
Chegando ao hospital, fiz a ficha e logo foi atendido. O
médico pediu uma radiografia. Assim que a radiografia ficou pronta, levamos
para o médico que, coçando a cabeça falou. "Vamos ter que colocar o dedo no
lugar e depois imobilizar, pois fraturou".
Ai, ai, ai... Felipe virou para mim e perguntou: "Mãe, vai
doer?" Eu nunca fui de mentir, muito menos para meus filhos, então respondi: "Vai,
pode gritar à vontade e segura na minha mão".
O médico, então chamou dois ajudantes para conter Felipe que
contava na época com oito anos de idade - um rapaz encorpado e forte - e começou
o procedimento. Felipe deitado olhava para mim e não queria segurar minha mão, queria
segurar um objeto qualquer que não me lembro do que era, mas insisti que
segurasse minha mão. O doutor, então, contou até três e colocou seu dedo no
lugar. Imediatamente Felipe soltou um berro ensurdecedor que daria para um
otorrinolaringologista fazer exame das amígdalas sem o abaixador de língua. Deu
para ver, direitinho, a úvula (campainha da boca) balançando, cena digna das
melhores animações. Juntamente com o berro, Felipe apertou minha não com tanta
força que me lembro da dor até hoje.
Quando levantei minha cabeça e olhei para a porta da sala de
sutura, vi dezenas de pessoas assustadas olhando para dentro, nem posso
imaginar o que elas estavam pensando. Felipe me olhava com os seus olhos vermelhos de
dor e raiva da dor que sentia que fazia com que sua íris ficasse mais verde
ainda. Foi assustador.
Terminado o procedimento, ele apenas me disse: "Eu falei
para você que não queria segurar a sua mão". Sinceramente não entendi por que,
acho que ele queria me ver longe dali.
Fomos embora e durante algum tempo precisei auxiliá-lo a
se locomover, pois não poderia colocar o pé no chão.
Mas tiramos uma lição de tudo isso. Pega-pega se brinca em
espaços livres, se for brincar de pega-pega com seu filho, tire as cadeiras da
sala... tenho dito!!
foto: coletada da internet (desconheço autoria)
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