sábado, 10 de janeiro de 2015

MARIA FUMAÇA

Foto por Beatriz de Barros


Há muito tempo que não fazia uma coisa diferente. Comecei o ano de 2015 a todo vapor com um novo passeio para onde eu nunca tinha ido de uma forma que eu nunca tinha feito. Viajar de Maria Fumaça!

Neste passeio contei com a companhia de minha irmã mais velha e filho mais novo e pudemos desfrutar de um meio de locomoção que nos rebateu aos antigos tempos em que para chegar ao interior do Estado de São Paulo, contava com esse meio de transporte. O apito da locomotiva a vapor e o tátá tátá das rodas nos trilhos dão-nos uma sensação gostosa de participar da história, sem falar do cheiro de lenha queimando e paisagens com fazendas e animais pastando, modificadas pelo progresso e desenvolvimento da região, pois encontramos edificações mais modernas como os prédios de apartamentos, condomínios fechados de casas, muito comum na região e estradas asfaltadas ao longo da linha do trem. Usando os três sentidos (visão, audição e olfato) Partimos da Estação Anhumas (Campinas SP) com destino à Estação Jaguariúna na cidade de mesmo nome no Estado de SP.

Interessante como a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária – ABPF cuida deste patrimônio com zelo. Fundada em 04 de setembro de 1977 pelo francês apaixonado por locomotivas a vapor e ferrovias, Patrick Henri Ferdinand Dollinger que, já naquela época, preocupado com o abandono da história, resolveu criar uma entidade de preservação nos mesmos moldes existentes na Europa e Estados Unidos. 

A primeira grande ação da ABPF foi instituir uma campanha nacional para impedir o sucateamento das locomotivas a vapor que conseguiu sensibilizar a administração da Rede Ferroviária Federal SA da época, como também obteve seu apoio. De uma só vez, a RFFSA cedeu a ABPF treze locomotivas a vapor desativadas. Bem, a ABPF precisava conseguir um ramal desativado para acomodar todo esse equipamento e dentre alguns trechos desativados no Estado de São Paulo, Patrick Dollinger optou pela antiga linha tronco da Cia Mogiana, entre Anhumas (Campinas) e Jaguariúna que somente em 1979 a FEPASA – Ferrovias Paulistas S.A. atendeu ao apelo da ABPF e cedeu, em comodato, este trecho de 24km.

Começou-se, então a empreitada de recuperação de locomotivas a vapor, carros de passageiros, vagões, estações, via permanente e sete anos depois, em setembro de 1984, era criado o Museu Ferroviário, com 24 km de extensão chamado de Viação Férrea Campinas-Jaguariúna – VFCJ.

Infelizmente, Patrick Dollinger não viu o seu sonho ser realizado por completo. No dia 17 de julho de 1986, faleceu nos Estados Unidos, vítima de um acidente automobilístico.

Com sede localizada na cidade de Campinas, a ABPF é composta de uma Diretoria Nacional e Divisões Regionais e Núcleos, espalhados pelo país, reunindo interessados na preservação da história da ferrovia brasileira, mas não conta com a ajuda governamental. Todo dinheiro arrecadado com as tarifas, lembrancinhas e alimentos que são vendidos nas estações e dentro dos trens são revertidos para manutenção e restauração do patrimônio ferroviário. Só para se ter uma ideia, o custo de reforma de uma locomotiva gira em torno de R$ 1.500 milhão e de um carro de passageiro não fica menos de R$ 500.000,00. Para isso a ABPF conta basicamente com voluntários para levar a história aos visitantes com passeios monitorados pelas ferromoças e ferromoços, bem como com alguns parceiros e qualquer pessoa pode colaborar financeiramente com este projeto, basta acessar o site www.mariafumacacampinas.com.br e se informar como fazer.

Fiquei maravilhada com a história deste empreendimento que o calor insuportável não atrapalhou em nenhum momento nosso passeio e nos divertimos muito com as apresentações musicais e histórias contadas pelo ferromoço que, a medida em que o trem avançava em seu destino, aparecia no carro para dar uma explicação para aquele trecho da viagem.

É um passeio para toda família que vale a pena fazer e eu recomendo, afinal por causa de um sonho de um estrangeiro, felizmente e por incrível que possa parecer, podemos conhecer mais um pouquinho a respeito da história de nosso país.


Foto por Inês de Barros
fotos: acervo pessoal





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