terça-feira, 7 de janeiro de 2014

NATAL ORTODOXO

Hoje comemoramos o Natal Ortodoxo.


Era 1582, ano em que o Papa Gregório XIII, decidindo acertar o passo dos dias com o sol, realizou uma reforma no calendário, deixando de fora quatorze dias do calendário Juliano adotado pelo Imperador Romano Julio Cesar. O calendário gregoriano passou a ser adotado por todo o mundo cristão, exceto pela Igreja Ortodoxa que o rejeitou e manteve seu calendário Juliano apenas para as comemorações religiosas.

Mas por que não aceitaram? A história nos conta que até o século XI, católicos romanos e ortodoxos têm uma história comum com a fé alicerçada na Igreja de Jesus Cristo. No século IV se deu o Primeiro Conselho de Niceia, reunião de bispos cristãos, a fim de obter a primeira tentativa de consenso através de uma assembleia representando toda a cristandade, onde foram discutidas questões doutrinárias. Como resultado desta assembleia, ficou estabelecida a Pentarquia, forma pela qual a igreja cristã passou a ser organizada por cinco patriarcados: Jerusalém, Antiorquia, Alexandria, Constantinopla e Roma (o antigo Patriarcado), sendo o Bispo de Roma considerado o primeiro dentre os patriarcas. Porém, com a transferência da residência imperial romana, juntamente com o senado, para Constantinopla alguns anos depois, o Bispo de Roma perdeu a influência nas igrejas orientais, sendo beneficiado o Bispo de Constantinopla.

Dentre os diversos fatores que fizeram com que Roma e os demais patriarcados se distanciassem, fazendo com que o Oriente e Ocidente deixassem de estar sob o mesmo governo, podemos mencionar a divisão do Império Romano, com sua consequente queda e a tentativa fracassada do Imperador Justiniano I em reunificar o império. Aliada à ascensão do Islã que dificultou as trocas econômicas por via marítima entre Império Bizantino (língua grega) e o Ocidente (língua latina), a unidade cultural entre os dois mundos deixou, aos poucos, de existir. Já no século VIII, Roma, sob a proteção do Império Carolíngio, as duas Igrejas, de Roma e Constantinopla, se distanciaram estabelecendo impérios distintos, fortes e autossuficientes, cada um deles com sua própria tradição e cultura. Por conta disso, as divergências doutrinárias entre Ocidente e Oriente foram inevitáveis, principalmente pela inclusão pela Igreja Latina da cláusula de filioque no Credo de Niceia (não encontrada nos textos gregos) que era considerada herética pelos ortodoxos.

Além da adoção gradativa de rituais diferentes, Roma pretendeu exercer uma autoridade incontestável sobre todo o mundo cristão, enquanto que Constantinopla apenas delegava à Roma uma posição de honra. Com tanta disputa aconteceu, no ano de 1504, a ruptura entre a Igreja Católica do Ocidente e a Igreja Ortodoxa do Leste, o chamado Cisma do Oriente.

Estabelece-se, então a Igreja Ortodoxa do Leste, porém com formato diferente dos antigos Patriarcados, composta por outras dez igrejas autocéfalas (com administração própria) que não aceitam a autoridade papal. E são elas: Albânia, Bulgária, Chipre, Geórgia, Polônia, Rússia, Romênia, Sérvia, Sinai e Tchecoslováquia.

Mas então, uma vertente do cristianismo comemora o nascimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo atrasado? Não!! De forma alguma. Este "atraso" se dá única e exclusivamente por conta dos calendários adotados pelas Igrejas do Ocidente e Oriente. Na verdade comemora-se no mesmo dia, sendo que no calendário Juliano conta com mais 14 dias.

Mas de tudo isso o que realmente importa é parabenizar, cada um à sua maneira, àquele que veio ao mundo, mesmo sendo Deus, em forma humana e que revolucionou o pensamento da época pregando seu amor.

Mais uma vez, respeitando meus amigos ortodoxos, UM FELIZ NATAL e que Cristo esteja abençoando seus lares e estabelecendo morada em seus corações.



foto: Advento
        Natividade
        ícone da escola de Pskov, século XVI

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