sexta-feira, 12 de setembro de 2014

ADULTIZAÇÃO E SEXUALIZAÇÃO



Soube que recentemente a revista Vogue, na sua edição kids, realizou um ensaio fotográfico com meninas extremamente jovens em poses sensuais. Há algum tempo eu já tinha visto um ensaio semelhante, onde a fotógrafa israelense Michal Chelbin, conhecida por retratar crianças e adolescentes revelando o quão difícil é crescer e estabelecer relacionamentos num momento em que os hormônios estão à flor da pele, comenta que “a imagem é apenas uma ponta do iceberg, é o portão para uma história à espera de ser contada e que eu tento retratar de uma forma apelativa ainda preocupante”.


Na tentativa de capturar histórias do cotidiano, as duas (Vogue e Michal Chelbin) incorreram em um erro, o de adultizar e sexualizar crianças e adolescentes. Com palavras bonitas e filosóficas, a fotógrafa Michal Chelbin justifica seu trabalho da seguinte maneira: “Eu tento fotografar meus assuntos deslocados dos ambientes de trabalho e desempenho do dia a dia destas pessoas. Normalmente estamos em casa, na rua ou em um parque. Minhas imagens são veículos para abordar temas universais: problemas familiares, conceitos de normalidade, a puberdade com todas as suas dores e o desejo da fama. Um exemplo disso são os adolescentes que eu fotografo, muitos deles estão à beira da consciência sexual. Eles são desta época difícil, divididos entre inocência e experiência, enquanto seus corpos ainda são de uma criança, seu olhar às vezes implica de forma diferente”.

Muito bem. Todo mundo precisa trabalhar para providenciar seu ganha pão. Mas pensemos de maneira prática e crítica. Qual é a diferença entre arte e pedofilia neste caso? Será que expor essas crianças e adolescentes desta maneira, sem medo de exagerar, não seria abrir portas para a pedofilia? Não é porque os pais destes jovens autorizaram a realização deste trabalho e as fotos serem de boa qualidade de imagem, bem enquadradas, feitas por profissionais qualificados, publicadas em uma revista conhecida e expostas para um público considerado de boa formação e bom conhecimento intelectual, que essas fotos não possam ser consideradas criminosas.

Pedofilia não se encontra somente em meios obscuros, escondido, a espreita ou em arquivos de um computador de um pervertido qualquer. Encontramos pedofilia quando abrimos uma revista e vemos crianças adultizadas com roupas não condizentes com suas faixas etárias e em poses sensuais. Enquanto nossos infantes estiverem sendo tratados desta maneira, a sociedade como um todo será responsabilizada por pedofilia, por permitir, autorizar, divulgar e comercializar, sem pudor, as imagens dos corpos desses jovens que ainda não possuem entendimento suficiente para saber do que realmente se trata.

Criança tem que ser tratada como criança e não ser fotografada para mexer com o imaginário do mundo adulto. Criança tem que jogar bola, brincar com boneca, ler livros ou assistir a programas televisivos destinados ao seu mundo infantil, não tem que usar esmalte, sombra muito menos batom ou sapatos de salto, o que dirá fazer pose sensual. Evidentemente que todo indivíduo tem sexualidade e esta será despertada de forma natural, na medida em que as transformações e desejos forem despertados pelos hormônios na adolescência, cada qual no seu próprio tempo.

Adultizar e sexualizar meninas e meninos fazem de quem autoriza, fotografa, dirige, edita, publica e expõe sejam coniventes com a pedofilia e deveriam ser responsabilizados por criar meios para que a linha tênue entre o desejo e a ação seja rompida. 

fotos: todas as originais disponíveis na internet

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