terça-feira, 17 de dezembro de 2013

OBRIGADA, SEMPRE OBRIGADA!!



Quando eu era criança tudo demorava muito tempo para acontecer. Natais, aniversários, carnavais e páscoas eram datas tão distantes que parecia que para chegar a estas festividades eu passava por uma eternidade.

A vida corria devagar, entre meus compromissos, que não variavam muito entre ir para escola e fazer as tarefas escolares, estavam o de não desarrumar o quarto e brincar. E como brincava. Dentro de casa com as irmãs e no pátio do prédio com os amigos de infância. Lembro-me de muitos deles, possivelmente todos. Tinha o encrenqueiro, o esquisitão, o sabidão, o apaixonado, o maluquinho, o inteligente, o estrangeiro, o bonitão, o mais feinho, o menos esperto, de todos os tipos e dos dois sexos, mas todos muito amigos e nos reuníamos na “roda” (lugar circular que dividia as duas torres de prédios, o bloco A e o bloco B, do condomínio) para jogar queimada, brincar de pique-esconde, passa-anel, estátua, jogar saquinho de areia, pular elástico, contar histórias, ler gibis, pintar quadrinhos com plasticor em tocos de madeira, que conseguíamos numa serraria ali pertinho, andar de bicicleta, skate e patins e quando tínhamos sede, a água da torneira era o melhor dos refrigerantes.

Era um condomínio imenso edificado na região central de Sampa. No Parque das Hortênsias, que tinha um jardim frontal repleto desta flor e uma árvore de jasmim (dama da noite), havia uma sala onde funcionava uma escolinha (muitas crianças frequentaram as aulas da professora Walli), que depois de alguns anos foi transformada na sala do ping-pong e ali disputávamos torneios com a turma que era imensa. Esta foi a minha primeira experiência escolar. Meu mundo foi neste prédio até o ano em que completaria 24 anos quando me casei, e realizamos a festa de casamento no mesmo salão de festas onde inúmeras vezes organizamos bailinhos regados a Cuba Libre e Guaraná. Foram 22 anos de muitas histórias, amigos e boas recordações.

Por ali passaram algumas celebridades. Édison Cabariti ou Edson Cury, o Bolinha, apresentador do Clube do Bolinha; Otto Glória (técnico de futebol); Celso Freitas (atual âncora do jornal da Record), Dany Roland (baterista do grupo Metrô que protagonizou a propaganda da USTOP que criou o bordão “Bonita camisa, Fernandinho”); o meu grande amigo Marcello Coria Massaini, que foi um dos Periquitos em Revista da Sociedade Esportiva Palmeiras e desde 2003 é o coreógrafo e diretor artístico do grupo, filho de Darcy Coria, atriz de diversos filmes na década de 50 e 60 como DE PERNAS PARA O AR e SAMBA EM BRASÍLIA e de Oswaldo Massaini (produtor e distribuidor de filmes brasileiros); Sergio e Arnaldo Batista (os irmãos Mutantes), e era muito comum ver a Rita Lee visitando a família Batista.

Da área de serviço do apartamento podíamos ver um terreno imenso pertencente à Cúria Metropolitana de São Paulo. Ali havia criação de uma diversidade de animais e podíamos ouvir galo cantando bem cedinho, cachorros latindo, cabra balindo, e porco grunhindo, principalmente quando chegava perto do Natal. Havia a Congregação das Irmãs de Santa Zita, uma espécie de convento, onde abrigava uma quadra em que os garotos da turma jogavam futebol, porém a entrada de meninas era proibida enquanto os meninos estivessem jogando e durante a permanência das meninas, os rapazes eram personas non gratas

Hoje já não se vê tudo isso. O que se vê é um edifício magnífico que acolhe diversas lojas e restaurantes, o Shopping Pátio Higienópolis, mas a Congregação de Santa Zita permanece de pé!!

Ali era tudo pertinho. O sapateiro, onde fabricava sapatos extremamente confortáveis, a quitanda, o açougue, a avicultura, os mercadinhos, a cabeleireira e manicure frequentada semanalmente por minha mãe, as farmácias com suas injeções de vidro e agulhas reutilizáveis, o dentista, a escola onde estudamos nossa vida toda indo da pré-escola até o término do atual ensino médio, a feira livre onde comprávamos sempre na mesma barraca, as lanchonetes e a padaria na qual um dia o filho do dono, após me servir os pãezinhos e o leite que eu havia pedido, perguntou-me se eu não queria levar sonhos também. Tudo se fazia a pé. Não havia ainda os grandes supermercados naquele tempo e o único Shopping era o Iguatemi, mas era longe. Contávamos com o comércio de rua, Largo do Arouche local dos restaurantes e onde comprávamos sapatos e Rua Augusta, onde comprávamos roupas. 

Tínhamos algo muito perto de uma vida do interior dentro do centro da grande metrópole. Nosso bairro era uma cidadezinha e nosso prédio um bairro desta, mesmo morando numa avenida, não havia tanto movimento. Subia em árvore, pulava o muro de um prédio para outro só para ir para casa de um colega no prédio vizinho (era muito mais prático). Bons tempos os meus antigos e bons tempos.

Como o prédio era imenso contando com 5 blocos distribuídos em 2 torres 18 andares e 2 apartamentos por andar, a turma do PH era grande e ainda vinham os agregados, amigos dos moradores, para compor. Quando nos reuníamos todos os sábados em frente ao prédio, ficava muito difícil de alguém conseguir passar pela calçada de tanto jovem conversando, rindo e debatendo sobre o que iríamos fazer para nos divertir. Era uma folia, mas por conta de um acidente automobilístico nas ruas do Pacambú, no qual Wandinha perdeu a sua vida, a Patrícia ficou gravemente ferida, mas sobreviveu graças aos bons cuidado que teve e hoje é cantora em Portugal e mais quatro jovens, Alberto, Silvia, Irany e Beatriz (esta última minha irmã) que tiveram ferimentos físicos de menor gravidade, a turma se dissipou diante de um acontecimento tão triste. Anos depois consegui reencontrar boa parte desta turma que ainda mantenho contato.

Namorei, casei-me, fiz faculdade, trabalhei, tive dois filhos a quem amo incondicionalmente, meus pais e avós já se foram, assim como tantos parentes, divorciei-me, casei-me novamente, novos amigos entraram em minha vida, reencontrei outros tantos, e a vida caminha de acordo com nossas frustrações e conquistas. 

Hoje ao completar 51 anos de existência, fiquei com muitas lembranças na mente. Da infância, da adolescência, da primeira viagem que fiz sozinha com uma amiga pra o norte do Paraná aos 14 anos, dos familiares que já se foram, dos amigos distantes, porém não menos presentes e aqueles que por algum motivo se afastaram, das alegrias, das conquistas, da aprovação no vestibular, do nascimento dos filhos, dos problemas, das tristezas, enfim da vida que vivi na medida em que ela foi se apresentando a mim. 

No balanço geral creio que o saldo foi positivo, apesar das rugas que insistentemente vão aparecendo, da falta de correspondência do corpo quando a mente quer fazer algo e do surgimento dos cabelos brancos, hoje me olho no espelho e vejo uma mulher feliz.

Agradeço imensamente à Deus por tudo que passei, por cada situação vivida, pois tudo Ele permitiu que eu vivesse para minha própria edificação e construção do meu caráter.

Agradeço aos meus pais por me orientar segundo os princípios cristãos e às minhas irmãs por de alguma forma me acompanhar e me apoiar.

Agradeço aos meu filhos por me mostrar como viver de forma mais leve e mais simples.

Obrigada, meus queridos amigos, por fazer parte da história da minha vida. 


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